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Edifício de seis andares desaba à madrugada em Luanda

A 1h57 minutos do dia 25 de Março de 2023, vai ficar registado na memória de muitas famílias, residentes na rua Comandante Valódia, em Luanda, ao testemunharem o desabamento do edifício 76-78, em que não foi confirmado o registo de vítimas humanas.

A pronta evacuação dos moradores para unidades hoteleiras, assumida pela empresa proprietária do prédio, teve inicio às 15h00 de sexta-feira e visou salvar vidas humanas.

Durante as primeiras horas da manhã de ontem, ainda era visível a nuvem de poeira, na rua Comandante Valódia. Com o início da remoção dos escombros, o Serviço de Protecção Civil e Bombeiros e outras forças mobilizadas no lugar encontraram viaturas em chamas, somas de dinheiro e outros pertences.

Algumas moradoras, em prantos, não conseguiram falar à equipa de reportagem do Jornal de Angola, embora lamentavam o facto de perderem quase tudo. “Não tive tempo de tirar muita coisa de casa. Fiquei sem nada e não sei onde morar”, salientou uma das senhoras.

Para averiguar a situação, o governador de Luanda, Manuel Homem, esteve no local, desde as primeiras horas de sábado. Apesar de estar desolado e abatido com a situação, ainda teve forças para coordenar as equipas dos Bombeiros e Polícia Nacional, que removiam os escombros.

Horas depois, juntou-se  ao governador o ministro de Estado e Chefe da Casa Militar do Presidente da República, Francisco Furtado.

Governo de Luanda

Em comunicado, o Governo Provincial de Luanda informou, ontem, que o desabamento foi em consequência do esgotamento da capacidade resistente dos elementos estruturais do edifício.

A nota refere que o prédio de seis andares, em que habitavam 18 famílias, pertencia ao Fundo de Investimento Imobiliário (Fundinvest), cujas anomalias foram recentemente comunicadas pela comissão dos moradores do edifício.

O Governo referiu que os trabalhos de remoção dos escombros começaram na madrugada de ontem e continuam até ao momento, sem registos de vítimas humanas.

 Alguns vídeos partilhados nas redes sociais demonstram os últimos momentos do edifício ainda intacto, mas com claras evidências de que desabaria a qualquer instante, tendo em conta que os pilares de suporte estavam a ceder.

Cerca de dez segundos antes do edifício desabar, ainda foi possível assistir a saída de uma mulher. Depois instalou-se uma forte nuvem de poeira.

Num outro vídeo, foi possível ouvir uma mulher aos prantos, ao alegar que tinha a mãe dentro do edifício, mas nada desse alerta foi confirmado pela equipa de serviço de bombeiros.

Importa referir que o diagnóstico precoce possibilitou que as 18 famílias que moravam no prédio fossem transferidas oportunamente e em segurança, depois das 15h00 de sexta-feira, ter se registado sinais de desabamento. Algumas famílias foram postas em unidades hoteleiras, outras preferiram ficar em casa de parentes.

Edifícios adjacentes com risco de desabar

O porta-voz do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros, Félix Domingos, reiterou a informação de que não há registo de vítimas humanas, apenas perdas materiais por se calcular e levantou a possibilidade de dois edifícios adjacentes desabarem a qualquer momento.

Explicou que os referidos prédios correm o risco de desabar, pelo facto de perderem alguma consistência em função da queda edifício ao lado. Por esta razão, moradores tiveram que deixar as suas residências.

Durante a conferência de imprensa sobre a actualização dos trabalhos que decorrem para a retirada dos escombros do edifício 76-78, Félix Domingos garantiu que, por via do trabalho de redução de risco de desastres, tem-se feito avaliação dos edifícios de Luanda, principalmente os que foram construídos no tempo colonial e estão em condições de risco.

“Existem edifícios que são de propriedade privada, por isso, os seus donos têm a responsabilidade de averiguar se tais infra-estruturas ainda têm condições de habitabilidade, apesar de que, sempre que necessário, alertamos a população de possíveis riscos, para que sejam transferidas numa outra zona e evitar perdas humanas”, esclareceu.

Félix Domingos garantiu que existem meios suficientes para concluir o trabalho da retirada dos escombros, contando com sete veículos de combate a incêndios, gruas pesadas e ligeiras, ambulâncias, meios da Elisal e de outras empresas de construção civil, para que as operações corram na normalidade.

Disse que os trabalhos estão a ser assegurados por 730 efectivos dos Órgãos de Defesa e Segurança, nomeadamente, Bombeiros, Polícias e agentes do SIC.

A equipa de trabalho conta ainda com 350 membros de outras instituições, com maior realce para o Governo de Luanda. Em relação à acomodação dos moradores, o porta-voz avançou ser uma responsabilidade do proprietário do edifício e das comissões dos moradores.

Engenheiro esclarece causas da fissura

Na ocasião, o engenheiro civil Edmundo Sapalalo, da empresa Vias do Bem, contratada pelo proprietário do edifício para fiscalizar a estrutura, contou que fez parte da equipa que diagnosticou, na última quinta-feira, tendo constatado fissuras acentuadas nos pilares, paredes e lajes.

Em função destas anomalias, alertou ao proprietário do edifício, para evacuar os moradores, porque o prédio apresentava sinais claros de demolir a qualquer momento.

“Recebemos a resposta do proprietário que notificou outras empresas de apoio e alegou não ser necessário evacuar as pessoas, pois fariam reforço com perfis”, disse.

O engenheiro considerou que a falta de manutenção e algumas alterações no edifício fizeram impactar o período de vida do prédio, acrescentando a isso o acréscimo de mais um piso na zona do terraço e a retirada de um pilar no interior como causas do desabamento.

Destacou que o tempo de vida útil de um edifício, normalmente é de 50 anos, mas este já estava com quase 70, o que agravou a situação por causa das alterações feitas.

Outro problema apontado por Edmundo Sapalalo tem a ver com infiltrações, que atacaram o esqueleto da estrutura como o aço. “Este material, em contacto com a água, provoca corrosão metálica e desfaz o betão armado.

  Moradores pedem maior fiscalização e manutenção regular de prédios

Alguns moradores desolados, pediram que haja maior responsabilidade dos proprietários de edifícios na fiscalização e manutenção, bem como a serem célres na resolução de problemas pontuais identificados.

Délcio Mateus, morador do prédio, há de 25 anos, confirmou que quando a fissura foi identificada, num dos pilares, procurou-se entrar em contacto com o Fundinvest, mas esta apenas mandou uma equipa no terreno para avaliar o imóvel, mas sem sucesso.

“O prédio deu os primeiros sinais de ruir, a partir das 15h00 desta sexta-feira, altura em que mobilizamos os moradores para evacuar o edifício, contactamos a administração, Polícia Nacional e bombeiros, que atempadamente estiveram no local”, revelou.

O jovem descreveu que cada andar, com excepção do último, tinha três apartamentos, onde viviam 18 famílias, todos evacuados, daí acreditar que não tenha moradores nos escombros.

Em relação ao alojamento, Délcio Mateus confirmou que a maior parte dos moradores preferiu ficar em casa de familiares.

Igor de Sousa,  morador nas proximidades,  descreveu que uma hora antes do desabamento estava no edifício, onde entrou para retirar alguns documentos do tio que residia nele.  Avançou que, nessa altura, havia pessoas no terceiro andar a tirar roupas. “Tinha ainda duas moças e um senhor. Uma delas estava com o filho ao colo, segundos antes do edifício desabar”.

  Ruptura na tubagem fez desabar o prédio

Um comunicado emitido, ontem, pelo Fundo de Investimento Imobiliário (Fundinvest) informou que de acordo com um relatório do Laboratório de Engenharia de Angola, o desabamento do edifício 76-78, foi causado por uma ruptura da tubagem nas redes de distribuição de água do prédio vizinho, que contribuiu para a perda da capacidade de suporte do solo de fundação.

De acordo com o comunicado do proprietário do edifício, os moradores foram evacuados a tempo, com o devido acompanhamento das autoridades competentes.

Refere, ainda, que os moradores eram, na sua totalidade, inquilinos e já foram temporariamente realojados.

O Fundinvest é um organismo de investimento colectivo, devidamente constituído e realiza actividades de acordo com as regras e a supervisão da Comissão do Mercado de Capitais, sendo que o seu objectivo é garantir a titularidade de activos imobiliários em benefício dos seus participantes.

  Direcção de Infra-estruturas alerta sobre alterações

O director nacional de Infra-estruturas Urbanas, Fernando Francisco, revelou que existem muitos edifícios no país com sinais avançados de degradação, o que representa um perigo eminente de desmoronamento a qualquer momento.

Fernando Francisco explicou que a falta de manutenção dos prédios construídos no tempo colonial e nas novas urbanizações, por causa da infiltração de água e alteração da estrutura por parte dos moradores são algumas causas que estão a acelerar a degradação de muitos edifícios no país.

No caso de Luanda, o director nacional avançou que vários edifícios estão em situação de degradação, tendo anunciado que decorrem trabalhos para acautelar que o edifício adjacente ao que ruiu sábado não tenha o mesmo fim.

O coordenador da Associação Habitat, Rafael Morais, referiu que a queda desse edifício deve servir de alerta para a necessidade de manutenção de vários outros prédios construídos no tempo colonial.

Este trabalho de manutenção ajudaria a prevenir a problemática da filtração de água nos apartamentos que estão mais abaixo. Por isso, avançou que o Ministério das Obras Públicas, Construção e Habitação deve criar condições que obriguem o respeito da manutenção dos edifícios.

Fonte: JA

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